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O Charruador e Outros Contos

Sinopse do livro O CHARRUADOR E OUTROS CONTOS

De Gianfrancesco Tornich

Pela plataforma CLUBE DE AUTORES

   Temos aqui um livro de contos que foram escritos usando as mais variadas técnicas literárias para descrever sobre os mais variados temas. Narrativas que vão do realismo, que buscam alargar a nossa experiência dentro da verdade do mundo; ao fantástico, na eterna procura por sublimação da inteligência e do espírito, compõe esta obra.

   Um senhor enfrentando seu passado, um homem que se vê sozinho no mundo, as ilusões, alegrias e tristeza de um jovem no carnaval, os sonhos de uma mocinha trabalhadora, o desafio de um ancião as portas da morte, o surpreendente contato com extraterrestres, as aventuras de um motociclista na cidade, As lembranças deixada por uma jovem doente, a luta e a tragédia de um caminhoneiro, o conflito entre o desejo controlado e exposição sexual que a vida urbana oferece, a surpresa que um homem extremamente moral pode gerar, o conflito entre a admiração por uma pessoa e a obrigação de destruí-la, os conflito de uma família e a volta do pai, o enfrentamento entre o desejo e a ética na cabeça de um jovem, uma parábola sobre a vida humana e o seu destino, o contraponto entre a moral burguesa e a vida popular, o paralelo entre o trabalho braçal e a guerra, as loucuras da vida noturna e a retomada da realidade ao amanhecer, o resumo de uma família e seus caminhos e a comparação entre a frouxidão oral e a coragem da vingança; são os temas dos vinte contos que compõe essa obra.

   Em O Charruador e Outros Contos incluem-se histórias que, além de mostrar-nos um panorama da vida humana, nos dão também, bons motivos para uma reflexão existencial e filosófica; que não por acaso, são as áreas de trabalho e estudo do autor.

 https://clubedeautores.com.br/livro/o-charruador-e-outros-contos 

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LÓGICA MENTIROSA.

- Nesta cidade só tem mentiroso.
- Acho que isso é mentira.
- Por que, você vai duvidar de mim agora?
- É que eu estou pensando no que você disse...
- Eu disse e repito, nesta cidade aqui só tem mentiroso. Todos, todos são.
- Então, você me desculpe, mas não posso acreditar no que você está dizendo.
- E por que não? Eu mesmo já me cansei de ver. Eu sou testemunha. Todos mentem e metem sempre.
- A é?
- É sim, te juro.
- Então me responda só uma perguntinha. Você é daqui?
- Sou sim. Sou nascido e criado aqui, por isso conheço todo mundo e sei que aqui só tem mentiroso.
- Mas espere ai. Se você é daqui da cidade e está dizendo que aqui só tem pessoas mentirosas, logo... você também seria um mentiroso.
- O quê?
- É a lógica. Se todos os moradores de uma cidade tem uma característica e você é morador dessa cidade, a conclusão só pode ser uma, você também tem essa característica.
- Não. Espera ai. Não foi isso que eu disse.
- Foi sim.
- Eu não sou mentiroso.
- Então você não pode dizer que aqui só tem mentiroso.
- Posso porque eu sei que é verdade.
- É mentira.
- É verdade.
- A lógica nunca se engana. Basta pensar com calma e sinceridade.
- Quer saber de uma coisa? Essa sua lógica que é uma mentirosa... Mais uma... Ela deve ser moradora daqui também...
Crônica


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UMA ORAÇÃO DE NATAL.

 

UMA ORAÇÃO DE NATAL.

 

    Mas tu, Belém-Efrata, tão pequena entre os clãs de Judá, é de ti que sairá para mim aquele que é chamado a governar Israel. Suas origens remontam os tempos antigos, os dias do longínquo passado. Por isso, Deus os deixará, até o tempo em que der à luz aquela que há de dar à luz. Então o resto de seus irmãos voltará para junto dos filhos de Israel. Ele se levantará para os apascentar, com o poder do Senhor, com a majestade do nome do Senhor, seu Deus.” Miquéias 5, 1-3.

 

    Pai, tu que reinas absoluto em teu universo sem fim, tu que detém todos os poderes existentes, tu que és o “porque” de todos os “por quês”, conceda-me a honra e a sabedoria de elevar-lhe esta prece em tua homenagem e em meu favor.

    Pai.

    Tu que sendo carne, pensamento e verbo só poderia se manifestar de modo pessoal e intransferível a cada um de seus filhos, numa aula particular que começa com Abraão, o primeiro aluno, e dura milhares de anos. O universo não é ti, o universo está em teu bolso, pois de outro modo não se sustentaria em meio ao seu próprio caos.

    Tu que profetizara quase mil anos antes a vinda de teu Filho, cumprindo gloriosa e majestosa preconização na figura de um homem simples, de uma família simples e de uma história simples para que ninguém possa apelar para a ignorância no fatídico dia do juízo que há de vir a todos.

    Tu que glorificaste a feminilidade em meio a uma terra rude e cruel numa pequena camponesa, que conhecemos todos nas nossas lembranças maternas. Sendo que, se tu a chamou de mãe, eu não tenho dignidade de chamá-la de mulher, mas, apenas e ousadamente, de Senhora.

    Tu que institucionalizara em Pedro tua mão terrena, feita de barro, santa e profanada; que luta e marca a hora no relógio de sua torre, inclusive para aqueles que fazem questão de andar fora do horário.

    Tu que discretamente orienta os mantenedores da tradição contra aqueles que querem construir um castelo de sombras no ar para ser habitado por zumbis emancipados da real liberdade.

    Tu que caprichosamente só concede o entendimento do alto e do exterior para aqueles que interiormente se diminuem. Senhor, só Tu és capaz de aplicar a justiça e retirar esse mesmo entendimento se uma vez essa regra é quebrada, sendo também, capaz de misericordiosamente retomar Teu santo entendimento uma vez restabelecida a regra de ouro.

    Tu que organizaste o campo de batalha e planta dúvidas nos corações crentes e suspeitas nos corações não-crentes para que todos possam desejar o ar enquanto temos a honra de permanecer no campo de luta.

    Tu que tudo isso pode, fizeste e criaste; não permita que eu abra minha boca para difamar o que desconheço, nem que zombe sobre o que ignoro e nem que filosofe sobre o que nunca estudarei honesta e corretamente, por não abrir todo o meu coração para compreender; como fazem Vossos inimigos, ou, melhor dizendo, os instrumentos humanos de Vosso Inimigo.

    Senhor amarre-me bem longe dos que acreditam ser inteligentes demais para crer, dos que estão enfeitiçados pela vaidade intelectual, dos que terrestrializaram o pensamento, dos que lhe vêem apenas como doutrina seca, dos que não fazem exame de consciência por medo da sinceridade, de todos os fanáticos e de todos os inconsequentes.

    Senhor indique-me a cada momento o caminho de minha autoconsciência, me leve ao alto; pois no fundo do vale da ignorância está os que ignorando tudo, ignoram o todo que não sabem, sendo que por isso mesmo acreditam tudo conhecer. Por piedade Senhor, não permita que eu me junte a eles, não permita que eu creia em tudo, por medo de crer em Vós.

    Senhor retira-me da festa das maldades e lançai-me na masmorra das beatitudes, porque, por mais que a sabedoria tomista eleve meu pensamento e meu coração aos portões do céu, nesta vida jamais poderei renunciar ao auxílio do agostinianismo e suas sábias e indulgentes chicotadas.

    Senhor, que eu não seja ressentido, que eu não seja alienado e que eu não fuja. Nem em nome de Nietzsche, nem em nome de Marx e nem em nome de Freud. Nem aqui e nem além.

    Senhor, daí a sua misericórdia e encurte a estadia aos que padecem no purgatório, estendei a mão aos meus e me desviai de tal lugar.

    Senhor, dai-me o poderoso senso das proporções. Tire de mim o fascínio dos objetos, mas que em minha consciência eu seja digno de vislumbrar o imanente e o transcendente. Que minha vaidade não me jogue no tenebroso mar das problematizações infinitas e diabólicas, mas que eu creia, creia na pessoa do seu divino Filho. Jesus.

    Que seja feita a justiça e que Vossa espada misericordiosa sangre meu peito injusto, que suas mãos benevolentes joguem meu corpo pecador na fogueira da redenção, e que, esta consuma em sagradas chamas toda a minha vaidade. Que Vosso chicote caridoso açoite a minha ignorância e que Vossos pés benditos pisoteiem meu rosto contra o chão duro da realidade. Por piedade Senhor, pela mais excelsa das piedades peço-Vos que seja implacável na aplicação da justiça, peço-Vos que não desista de açoitar minha carne até que o regato de meu espírito encontre o oceano de tua glória. 

    Que seja feita a justiça e que eu não seja vítima nem da condenação e nem do crime que não cometi.

    Que seja feita a justiça e que o Senhor cuspa a tua verdade em meu rosto, humilha-me publicamente com tua bondade, tortura-me com tua sabedoria até eu confessar que te amo por toda a eternidade.

    Que seja feita a justiça e que se eu sofrer, adoecer, for injustiçado, me tornar escabelo aos pés dos meus inimigos ou for mal-compreendido, que toda glória seja para ti Senhor. Porque eu aposto minha vida que a alma é imortal.

    Quatro mil e quatro anos teu povo esperou por uma estrela na noite, mais quatro mil e quatro anos poderemos ter de esperar pela manhã gloriosa.

    Bem sei que Tu não precisas de louvores nem de adoração, mas bem sei, como entenderam os reis magos, que se eu não te louvar e glorificar serei esmagado pela minha mediocridade, pois só te louvando não sou um ignorante, só te bendizendo não sou um escravo e só te adorando não sou um verme.

    Por fim, peço-lhe Senhor que me conceda a certeza de Jô, quando este corria sem olhar para trás de um mundo em decadência e o ímpeto de Jacó, quando este se atracava em violenta pancadaria contra um anjo do Senhor, na esperança de receber deste a Vossa santa benção. Conceda-me a insistência para compreender que minha capacidade e minha responsabilidade neste mundo se limitam, sempre e apenas, ao próximo passo que posso dar e que o caminho total, como qualquer destino, eu tenho apenas a graça de vislumbrar, sonhar e intuir, mas nunca de decidir e de determinar, e se uma vez assim faço, quebro Vossa regra de ouro e me torno um porco imundo mastigando pérolas, que no apogeu de seu desequilíbrio afetivo não se questiona e logo não se compreende, e que mesmo assim, vive a postar belos nada pelo mundo afora no iludido afã de redenção existencial por um amontoado de migalhas curtidas no vazio. Pois, quem não tem fé que atire a primeira hipótese, quem não crê em Ti que atire a primeira coincidência e quem não crê no poder benéfico da religião, que construa uma civilização. 

    Que a estrela do Oriente brilhe em todos os corações, Amém.

 

    Tendo, pois, Jesus nascido em Belém de Judá, no tempo do rei Herodes, eis que reis magos vieram do Oriente a Jerusalém. Perguntaram eles: onde está o rei dos judeus que acaba de nascer? Vimos a sua estrela no Oriente e viemos adorá-lo.” Mateus 2,1-2. 




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A GRANDEZA...

     Escanteio para o Nacional, trinta e oito da etapa complementar, bate Taco na área, tira o goleiro do Juventus. Domina Machado no meio do campo, avança e tenta levar o Juventus nesse final de jogo, Machado avança e tem Guimarães mais a esquerda. Guimarães domina e toca para Ramos na direita que bate forte, mas Josiel pega firme.

     Tintas Trindade, qualidade por baixo preço. Tintas Trindade, a tinta que passa e ficaaa...

     O jogo vai se aproximando do seu final, o empate persiste, o clima de prorrogação vai tomando conta e a vaga para a final do campeonato brasileiro permanece em aberto.

    Josiel sai jogando com Cuíca no meio, Cuíca domina e liga rapidamente Taco lá na frente. Um lenços, dois lençóis, meu Deus do céuuu... Mandou a bombaaaa... É gol... Gooooooooooollllllllllll...

     “Felicidade... Brilha no ar, como uma estrela que não está lá...”

     Gooooooollll.... gol, gol, gol,...

 

     Imagino que o inferno seja um lugar onde dois times de futebol se enfrentam eternamente, mas não exista nenhum gol, não existam balizas para demarcar os tentos e não existam objetivos; assim, os jogadores se enfrentam na ânsia de possuir a bola, porém sem tem em mente para onde irão depois. Os times jogam, duelam, lutam e nunca chegam a lugar algum. Rodam o campo, correm pelas arquibancadas, saem do estádio, jogam pelas ruas da cidade e chegam as plantações e as florestas, mas nunca marcam o alentado gol salvador. Os diabos mais cruéis seriam os jogadores mais habilidosos que com dribles encantadores hipnotizam e seduzem mais e mais os condenados a peleja eterna para lutarem com mais garra, mais vontade, mais ânsia e ilusão; sonhando com o gol que nunca chegariam a marcar.

     E o céu, como seria? Bem, sobre o céu nos tivemos a graça de deslumbrar sua divina imagem no lance do gol de Taco domingo último, no estádio Comendadorzão. Ali A lógica, o destino, a mágica e a perfeição se uniram para mostrar a transfiguração do que seja a gloria eterna. As palavras, como já dizia o filósofo Platão, não são suficientes para descrever o supremo bem, portanto não podem descrever o que ali aconteceu. Oxalá, um dia eu tenha a graça de escrever um livro tentando contar um pouco sobre tal acontecimento.

     O futebol, como muitos dizem, é ilusório, é idiotizante, é mentiroso e, acredito eu, por isso mesmo humano demais. Futebol é símbolo e fato, é a imitação e o real, é a forma simplicidade e a complexidade tentando se sobrepor uma a outra. Não me iludo com o futebol, me encanto sem querer.

     Imagino que quando o Juventus desceu num forte contra-ataque, depois de um escanteio do Nacional cobrado pelo próprio Taco, ele deve ter pensado que tudo estava perdido, que a sua chance de ser campeão no seu país, depois de ter sido campeão correndo o mundo, estava perdida. Quantas vezes uma pessoa não se vê perdida momentos antes da gloria lhe dar uma baforada? Quantos momentos de tristeza não foram sucedidos das maiores alegria que uma pessoa já teve na sua vida? Quantas lágrimas de tristeza ainda estavam úmidas na face, enquanto as lágrimas de alegria já corriam por sobre elas? Mas o ataque do Juventus desperdiçou a chance clara de fazer o gol e numa reviravolta existencial, em poucos segundos depois, a bola vinha magnetizada de bênçãos para Taco, malabaristicamente, dar uma chaleira num adversário, depois um lençol em outro e por fim, acertar um chute cujo voo fez um ângulo impossível fisicamente para morrer, ou viver para sempre, no fundo das redes. Quando Taco correu gritando para abraçar o pessoal do banco de reservas, exorcizava tristezas, angustias, magoas, dores, ressentimentos e desilusões de uma nação de torcedores e admiradores que gritaram junto com ele. Uma seleção de Pelés, Maradonas, Garrinchas, Beckenbauers, Rivelinos, Zidanes, Di Stéfanos, Sócrates e Zicos e Ronaldos se metamorfosearam em um simples Taco. Em um simples José Aparecido de Souza. Coisas do futebol e dessa vida de ilusões.

     Muito provavelmente em cem ou duzentos anos não sobrará futebol, porém acredito que sobrará sim o gol de Taco nessa semifinal de brasileirão, a vida seguirá, mas por hora só nos resta esperar até o próximo domingo para ver quem será o campeão do ano, quem será ungido de gloria e esplendor pela bola e suas forças enigmáticas que a circundam pelo universo inteiro.

 

     ... Gol, gol, gol, golaçoooooo de Taco.

     “Quantos jovens te procuram, quantas esperanças tu vestes, quantos sonhos realizados, quantos atletas fizestes. O que é ruim logo se acaba, o que é bom permanece...”

     É do Nacional, é do Nacional, é do Nacional... A paixão da exceção... Um a zero e o Nacional fica com a mão na vaga da finalíssima... Uma pintura, uma obra prima, uma mágica. Espetacular, sensacional, magnífico, gol de Tacooo... Como descrever esse lance? Cuíca lançou a bola, Taco vem na corrida e com o lado externo do pé já dá um lençol no primeiro adversário, faz um giro de corpo e sem deixar a bola cair dá outro toque na bola e outro lençol em outro adversário e mais um giro de corpo para pegar a bola, sem deixa-la cair e mandar um petardo de mais de trinta metros de distância, para encaixar a bola no ângulo. Uma obra prima fruto de um design divino aqui no meio campo do Comendadorzão! Um resplendor aberrante! Uma apoteose estética de uma máquina humana de jogar futebol chamada Tacooo... Demais, demais, demais... Fala Eloy Valadares, fala o que você viu? - O ataque do Juventus parecia muito bom, mas apesar dos belos passes de Machado para Guimarães e de Guimarães para Ramos, o chute ao gol deste último foi bem defendido pelo goleirão Josiel, que por sua vez saiu jogando rápido com o meia Cuíca que lançou Taco lá na frente e este foi monumental... Em dois lençóis magníficos ele tirou dois adversário e num chute sem-pulo a bola foi  direto no ângulo do gol do arqueiro juventino... Ai amigo, ai já era, um a zero para o Nacional e agora faltando menos de cinco minutos para o fim da semifinal do brasileirão...

     “Coração apaixonado. Só escuta a própria voz e nada mais...”

     Tempo e placar do jogo...

     Tintas Trindade, qualidade por baixo preço. Tintas Trindade, a tinta que passa e ficaaa...

     Rola bola... Agora temos quarenta e um minutos do segundo tempo... Nacionaaaal, tudo um. Juventuuuus, só zerooo... E tem mais ataque do Nacional...


UM SINAL

Ressentimento amoroso.

Igualdade privilegiada.

Respeito belicoso.

Ignorância idolatrada.

 

Silenciar pela liberdade.

Extorquir toda verdade.

Deturpar por maldade.

Narrativa como realidade.

 

Tudo é normal.

Rejeitados para humilhar.

Toda lei explodiu.

Perseguidos para maltratar.

Tudo é natural.

Pequenos para dominar.

Tudo é espaço vazio.

Sem moral para amar.

 

Um Sinal no céu.

Como moda e alucinação.

O Reino como réu.

Decadência e comemoração.

 

Manipulação nervosa.

Estratégia e vingança.

Justiça rancorosa.

Ódio contra a aliança


Sarra

Sem paz e sem amor.


OS ANTIFAS E O JOGO DE PALAVRAS.

Atualmente se fala muito em fascismo na política brasileira. O termo, como não poderia deixar de ser, é usado como ofensa e difamação, mas será que quem o utiliza como arma sabe se seu adversário é mesmo fascista? Vejamos. 

A história mostra que fascismo é um tipo de governo autoritário, com poder ditatorial e forte controle estatal sobre a sociedade e sobre a economia. A história mostra, também, que os fascistas governaram a Itália de 1922 até 1943 e chegaram ao poder quando os Camisas Negras (militância voluntária) usando a tática chamada "ação direta", que nada mais é do que a crescente violência contra adversários políticos, promoveram a Marcha sobre Roma em outubro de 1922 e instituíram a ditadura de Mussolini.

Os fascistas colocam as ideias e os interesses de seu partido acima dos valores e direitos individuais, logo, por princípio, ser contra o fascismo é ser a favor da democracia e liberdades individuais. Porém, ao longo do século XX os partidos de esquerda (comunistas), espalhados pelo mundo, "roubaram" o conceito de antifascismo e com ele criaram o termo propagandístico "Antifa" para rotular suas bandeiras. Isso porque as ideias esquerdistas (comunistas) sempre foram rejeitadas pela maioria da população, já o sentimento antifascista, pelo contrário, é o sentimento predominante no povo. Portanto, hoje em dia, quando vemos grupos Antifas, vemos apenas um rótulo contra o fascismo, mas que na verdade são ideias e pautas comunistas, tais como: anticapitalismo, socialismo e até anarquismo. E o pior, os Antifas usam a velha tática da "ação direta", que é a mesma violência política usada pelos fascistas na Itália no início do século passado (exemplo disso são os quebra-quebras que os Antifas provocam em suas manifestações, da mesma forma que os Block Blocs em 2013).

O Brasil de hoje, com um governo de direita, conservador nos costumes e liberal na economia, é um alvo da esquerda e de seu braço Antifa, que utiliza a difamação e agora a "ação direta", ou seja, a violência, como armas política. Enfim, a esquerda faz um jogo de palavras e ao mesmo tempo em que acusa o governo de fascista ela usa na prática as táticas que os velhos fascistas usavam. Logo, são antifascistas no discurso e fascistas na prática.

Existe uma frase atribuída ao estadista inglês Winston Churchill que diz que "os fascistas do futuro chamarão a si mesmos de antifascistas", muitos questionam se foi mesmo o político inglês o criador da frase, mas independente da autoria, a frase demonstra uma verdade histórica. Como também é verdade histórica que os maiores antifascistas do Brasil foram nosso Exército com sua F.E.B. (Força Expedicionária Brasileira) na sua campanha durante a Segunda Guerra Mundial, onde as forças verde e amarelas lutaram e venceram os fascistas na Itália.


SAÚDE E ECONOMIA

A política nacional não superou o 2° turno da eleição presidencial de 2018. Parece que vivemos um eterno 3° turno em que a esquerda, ressentida pela perda do poder, tenta politizar tudo  contando com a ajuda da grande mídia e da academia universitária, que também sofreu cortes das descontroladas verbas públicas que recebiam. Contra uma direita sem muita organização, sem um partido decente e contando apenas com o sentimento conservador da imensa maioria dos brasileiros.

No entanto, para piorar ainda mais o clima, eis que surge o vírus vindo da China e o que era para ser uma discussão de saúde pública vai se transformando em debates e bate-bocas sobre política e saúde mental em que interesses disfarçados e opiniões não estudadas formam a maior parte dos argumentos.

A História mostra (o óbvio) que melhores condições econômicas, portanto também materiais, sempre geraram maior qualidade de vida e aumento da expectativa desta. Se em meados dos anos 50 os brasileiros viviam em média 57 anos, hoje essa média passou dos 75 e é muito claro o salto econômico que vivemos nesse período.

 Por outro lado, é preciso observar também, o ciclo macabro que uma pandemia pode gerar. De mortes para aumento de gastos com remédios e estruturas médicas. De confinamentos que travam a roda da economia e geram falências de empresas e pessoas. Tudo podendo gerar recessão que não se resolve da noite para o dia e ainda é o ambiente para convulsões sociais de toda ordem. 

Então, preferir saúde a economia, ou economia a saúde é questão para quem desconhece a real profundidade do problema e a complexidade da nossa sociedade moderna. Desconhece também que foram depois de graves recessões econômicas que as verdadeiras ditaduras de tipo fascista conseguiram chegar ao poder.

O período não é e não deveria ser de 3° turno de eleição presidencial, mas sim de seriedade, responsabilidade e medidas ponderadas que protejam a saúde física e a saúde econômica de nosso povo. É tempo de entender que se classe média e classe pobre reagem de modos diferentes diante da quarentena e da ameaça de lockdown é porque elas têm necessidades diferentes. É tempo de entender que quem está passando fome não tem medo de vírus e é tempo também de tomarmos providências sérias para que no futuro não sermos obrigados a procurar morcegos e coisas do tipo como alimentação por vivermos em terra arrasada pelo vírus e pela fome.


Etiam

Onde a confusão e o erro não entram.

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O CAMINHO DO MILITANTE REVOLUCIONÁRIO.


- A visão de mundo materialista faz o revolucionário pensar que neste mundo nada presta e que É necessária uma revolução para fazer um mundo melhor (perfeito).
- O discurso que projeta um mundo perfeito é colocado como a única meta válida para o revolucionário. Tudo tem que se encaixar nesse discurso.
- O revolucionário não olha primeiro a realidade concreta dos fatos, mas sim com os fatos se encaixar no seu discurso.
- Para fazer um mundo perfeito buscam tomar o poder político.
- Para tomar o poder político acham que precisam destruir as bases que sustentam quem está no poder atualmente.
- Passam a pensar assim: “Como nós (os revolucionários) temos o conhecimento da verdade (o mundo perfeito) podemos destruir esta sociedade doente porque temos a autoridade moral dada por nossos ideais superiores.”
- Os revolucionários são induzidos a defender tudo que seja perverso para o caos destruir logo este mundo, e assim, começar a construção do tal mundo melhor.
- Se um grupo chega ao poder, ele logo se diz defensor perpétuo do ideal de mundo melhor e todo e qualquer adversário deve ser perseguido e exterminado, e assim, passa o resto da vida, pura e simplesmente tentando se manter no poder.
- Os grupos revolucionários que não chegaram ao poder logo denominam o que chegou de farsa, dizendo que ele deturpou o nobre ideal de mundo melhor e que a luta pelo poder deve continuar.
- Como o futuro perfeito nunca chega o ideal revolucionário na prática se torna apenas luta pelo poder. Lideres psicopatas e militância histérica formam o exército do caos.




O FASCISMO DOS QUE SE ACHAM ANTIFASCISTAS.


    Embora a palavra fascismo tenha virado um xingamento fácil na boca de muitos que não fazem nem ideia do que se trata, ele, o fascismo, foi um sistema político que alcançou o poder na Itália no início do século passado e, junto com seu irmão, o nazismo alemão, foram os causadores da Segunda Grande Guerra Mundial, no qual o bravo Exército Brasileiro lutou com mais de vinte cinco mil homens combatendo as forças nazi-fascistas nas terras italianas.
    Umas das técnicas dos seguidores de Mussolini, líder fascista italiano, para se chegar ao poder era de colar um rótulo (mentindo ou forçando muito a barra no argumento) nos adversários políticos para com isso facilitar a perseguição. Assim, católicos se tornaram idolatras, ciganos se tornaram vagabundos, judeus se tornaram ladrões e democratas liberais se tornaram entreguistas nas bocas dos fascistas italianos. Ou seja, praticavam a divisão de classes numa luta do “nós” contra “eles”.
    Uma vez no poder, os fascistas centralizaram a economia, fazendo o Estado intervir fortemente em todos os setores da vida italiana; os fascistas financiaram uma militância partidária altamente organizada, doutrinada e subserviente ao discurso fanático se seu líder, no caso, o “Duce” Mussolini e os fascistas combateram os valores cristãos, democráticos e liberais.
    No Brasil o governante que mais se aproximou da ideologia fascista foi Getulio Vargas, que criou a ditadura do Estado Novo e foi combatido pela UDN (União Democrática Nacional), um partido de valores sociais conservadores e liberais para a economia e que hoje é chamada de fascistas pelos que se acham antifascistas.
    As contradições dos que se acham progressistas, esquerdistas e mais inteligentes do que os outros não param por ai. Seguindo os métodos fascistas, que dizem combater, rotulam patriotas de xenófobos, defensores das crianças de preconceituosos, indignados com a violência de intolerantes, defensores das mulheres de estupradores, cristão de fanáticos e por ai vai, seguindo a risca a cartilha fascista, mesmo que sem saber.
    Ao longo da história os teóricos socialistas/comunistas tentaram disfarças suas ideias, que são irmãs do fascismo, com uma roupagem moderna e avançada, mas que não esconde suas raízes autoritárias e assassinas, a exemplo do que acontece com a ditadura venezuelana, que foi endurecendo o regime gradualmente e sempre com o enganoso discurso de igualdade social e defesa dos pobres, mas que no final gerou miséria, violenta repressão política e uma crise de refugiados em Roraima e que se estende por todo o nosso país. Sendo que, o regime da Venezuela é apoiado por partidos de esquerdas, do Brasil, o mesmo que se dizem progressistas e tem grande similaridade com a proposta apresentada no plano de governo do Partido dos Trabalhadores apresentados nestas eleições de 2018.
    Socialismo, comunismo, fascismo e nazismo são teorias políticas que se baseiam em belos discursos de tiranos para iludir a massa de ingênuos desavisados. Seus seguidores repetem frases feitas por maquiavélicos estrategistas partidários e se negam a aceitar a realidade dos fatos concretos. Hoje socialistas de iphone, “inteligentinhos” mimados, sindicalistas pagos e militância mortadela são a vanguarda do atraso se achando serem progressistas e justiceiros sociais. São fascistas na pratica se autodenominando antifascista em seu discurso.
    Lembrando que chamar alguém diretamente de fascista, como os esquerdistas se acostumaram a fazer ultimamente, é crime que atenta contra a honra do ofendido, por induzir que tal pessoa pactua com o regime assassino de Mussolini dos anos de 1922 até 1943, sendo que o Código Penal Brasileiro define os crimes de injuria, de calunia e de difamação em seus artigos 138, 139 e 140, sendo a pena variante de seis meses a um ano de reclusão. Lembrando também que: democratas, liberais, cristãos e todos os que desejam uma sociedade livre, ordeira e pacificada não podem se calar nem diante a injusta injuria, nem diante do fascismo disfarçado de antifascismo.

Exército Brasileiro: #PartiuCaçarFascistas

GIAN TORNICK



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PRINCÍPIO DE XADREZ POLÍTICO.


     A sua jogada pode ser boa, mas a jogada do adversário pode ser ainda melhor. É o risco que se corre, até porque, ele pode não ter a exata noção das possibilidades dele, e ai, ganhar ou perder pode ser apenas questão de coragem, ou sorte.
     Ao entrar na arena das disputas políticas, a primeira atitude que uma pessoa de bom senso deve tomar é duvidar. Duvidar das aparências dos discursos que foram construídos para conquistá-lo, duvidar de ditas boas ações que escondem projetos de poder, duvidar de números que escondem ideologias que geram resultados perversos, enfim, duvidar é o primeiro ato na maturidade política.   
     Na política o discurso simplista geralmente pretende embutir nas cabecinhas dos desavisados uma espécie de coleira dogmática. Ricos contra pobres e bons contra maus é o tipo predileto de discurso de psicopatas na espreita de capturar inocentes úteis para usá-los como massas de manobra. Todo cuidado é pouco ao lidar com políticos. Até por que, como diz um amigo meu: “Todo idiota útil, por definição, é idiota demais para compreender para quem ele está sendo útil.”
     Faça o que tem que ser feito, faça o justo, faça o seu melhor; porque a vitória pode ser mais que uma questão de sorte, ela pode ser simplesmente, um prêmio divino. 



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ATO PENITENCIAL II

    Voltando à culpa, ou pelo menos, a minha, vou narrar um fato pessoal para não divagar demais e não sair fora da rota desta vez...
    Confesso que já fui petista, esquerdista e um pouco vitimista por um período da minha vida. Ajudei, e muito, a montar o Partido dos Trabalhadores na minha cidade, conheci personalidade de expressão nacional do partido, convivi com dirigentes regionais e seus grupos, fui membro de movimento estudantil em faculdade pública, estive no meio de reuniões e passeatas contra o “imperialismo yanque” e gritei palavras de ordem contra o capitalismo. Vi de perto a política esquerdista e seus principais braços; estudantes, sindicatos de professores e membros da Teologia da Libertação que se embrenham em boas consciências desavisadas. Vi como a ideologia reinante, dita progressista, cria seus filhotes no meio da burocracia estatal e atrasa o progresso nacional, vi as muitas formas de pressionar os neófitos a entrarem e se tornarem a infantaria de partidos e vi como é difícil sair do oceano de argumentos e interesses que as forças revolucionárias possuem. Mas um dia, enfim, depois de muito gestar dúvidas, críticas e desilusões; venci a barreiras do “movimento” e por longos caminhos compreendi (e ainda estudo para compreender) a realidade sem disfarces, falácias, opiniões ou percepções pré-moldadas em gabinetes.
    Digo estas coisas por pensar que eu deveria ser digno de respeito por ter conseguido mudar de convicção ideológica, em um meio onde poucos o conseguem. Porém, não é isto que ocorre e volta e meia vem um inspirado pelo pai da tentação e me diz: “Você é esquerdista” ou “a culpa é sua por esse povo...”, enfim, volta e outra ganho de presente um passado digno de vergonha.
    Mas vamos lá, não seria isso o peso para me recolher em lamúrias e covardia pelas ideias que tive e tenho. Porque se a confissão do mea-culpa é uma virtude cristã, o aceitar os açoites das ignorâncias dos próximos e a perseverança na luta pela correção também o são e a vida continua. 




ATO PENITENCIAL

    Mea-culpa é uma expressão que significa “minha culpa”, ou “minha falha” e não “meia-culpa” que significaria que apenas metade de uma dada culpa seria minha, como fazem alguns políticos. 
    Na tradição católica (presente também em liturgias protestantes mais antigas), o confessar-se culpado é o início para a redenção da alma, não sendo à toa que a expressão é pronunciada em uma declaração pública logo no início das missas, no chamado Ato Penitencial.
    Errar, tomar consciência do erro, confessar e lutar para não cometer tal ato ou outros parecidos; deveria ser algo comum, compreensível e louvável a todo cristão e a toda pessoa que vive em um ambiente dado como cristão, pois, a sociabilidade mínima passa por saber quais são as bases do pensamento predominante.
    O projeto divino de redenção é muito bem construído, mas contra ele trabalha o rei da divisão, o grão-mestre da confusão e o pai da pequenez; e mesmo que uma boa alma, que depois de lutas internas elevou a consciência a níveis maiores e difíceis de serem atingidos, vem os espíritos zombeteiros para sempre voltar à velha acusação de uma antiga culpa: “mas ele já fez isso...”, “agora nem adianta mais...”, “não acredito que tenha mudado...” e por ai vai.
    É certo, também, que a tal conversão pode ser usada como artifício ou argumento para cometer corrupções até maiores que as confessadas, o sujeito confessa algo esperando com isso livrar-se de possíveis punições ou outras coisas do tipo, afinal de contas, estamos no Brasil, onde o pecado, a safadeza e a malandragem têm uma expertise bem acima da média mundial, devido a excelência dos laboratórios aqui montados desde não sei quando, mas enfim... Acho que por minha culpa, meio que perdi o que queria dizer com esta crônica... 



POBRE PODER.

    Se existe uma coisa que a história já cansou de provar é que o poder político pessoal tem prazo de validade para acabar. Independente do caráter do governante, da suas forças morais, retóricas, militares ou econômicas; um belo dia ele se encontra incapaz de guiar, controlar, articular e comandar a quem ele um dia governou.
    Às vezes, a decadência do poder se faz lentamente, por longos anos (ver o ex-ditador zimbabuano, Robert Mugabe), ou então, acontece meteoricamente como foi a subida até ele (ver o ex-presidente, Fernando Collor). O fato é que o poder sempre muda de mãos e quanto maior o apego do governante a ele, maior é o sofrimento na hora fatídica do adeus. Talvez, foi consumido por tal sofrimento que um ex-presidente do Brasil deu um tiro no próprio coração quando se viu sem alternativas e prestes a ser deposto do cargo máximo da nação (ver Getúlio Vargas). Faltou alguém dizer para ele: “Calma amigo! Aceita que dói menos!”
    Não só na democracia é assim. Stalin governou com mão de ferro até o último suspiro, mas nada além dele. Júlio Cesar foi o maior dos imperadores romanos, mas no fim, foi golpeado pelas costas por um amigo-traidor e sangrou no chão até morrer. Xerxes, rei e autoproclamado deus persa, um dia chorou diante de seu monumental exército ao pensar que dali a cem anos todos estariam mortos. Ou ainda, temos a lenda que envolve Napoleão Bonaparte, imperador francês, que no auge de seu poder e glória, no desfile nacional que comemorava seu aniversário e quando estava rodeado por irmãos que ele pôs nos tronos de vários reinos e por irmãs que ele fez casar com reis e se tornarem rainhas na Europa; ele, no alto do palanque, se vira para sua mãezinha e num tom esnobe e pergunta se ela estava gostando de ver a glória do filho; onde teve a famosa resposta: “Está tudo muito bonito e bom, meu filho, mas vamos ver se dura, né!” Não durou o tanto que ele provavelmente imaginava e pouco tempo depois ele morria sozinho, exilado e envenenado numa ilha distante de sua terra.

    Poder perpétuo, supremo e ilimitado, até hoje, só se ouviu dizer de um...     



SEM TEVÊ

    Às vezes eu passo a sua frente e nem olho, às vezes olho, mas ela não consegue prender a minha atenção. Às vezes, na maior das boas vontades, eu tento dedicar algum tempo a sua existência, mas não tem jeito, ela não me convence mais, ela é uma velha decadente que perdeu seu encanto para mim.
    Ela, que ainda ilude muitos por ai, tenta a todo o momento se relacionar com sua adversária mais forte e interessante. Em alguns poucos pontos a relação até flui, mas no geral acredito que seja um fato que se confirma dia após dia, da nova comer a velha.
    Calma! A coisa não é tão explicita e vulgar como parece ser. Na verdade a coisa é mais implícita e degenerada. Alguns podem ver o fato sob a ótica romântica, outros veem a loucura e o individualismo radical. Fato é que a televisão vai perdendo, dia-a-dia, cada vez mais espaço para a internet e seus múltiplos aparelhos no tempo e na atenção das pessoas.  Inclusive, com a onda de tecnologia se avolumando cada dia mais rápido e com maior intensidade, é possível prever que o velho sistema de televisão, canais e sua relação com o público vão desta para uma melhor.
    No futuro, muitos ainda dirão com tom de lamento sobre o fim daquela que um dia será chamado de “instrumento” que reuniu a família em torno de noticiários, novelas e programas de auditório, tudo isso em queixas do tipo: “Há! No tempo em que nos reunimos na sala para assistir a tevê...”. O que não deixará de ser uma ironia, pois ao longo dos tempos a televisão sempre foi acusada de propagar alienação, degeneração moral e de distanciar as pessoas. Ou seja, pobre tevê, depois de transformar as pessoas em números consumíveis será usada e jogada fora, mas aqui se faz aqui se paga.   
    E, que bom!



A IGUALDADE

Ele observa.

Ela fala.
Ele vê a forma bonita.
Ela repara nas roupas e no porte.
Ele se encanta com a voz e com o perfume.
Ela faz charme e observa seu carro.
Ele sente o coração acelerar.
Ela pensa rápido e friamente.
Ele faz pose de dominador.
Ela finge ser dominada.
Ele fica neurótico com o passado.
Ela põe em dúvida o futuro.
Ele se hipnotiza com o seu quadril.
Ela observa seu status social.
Ele quer todas.
Ela quer o melhor.
Ele se escraviza pela mãe e pelos filhos.
Ela mata pelo filho.
Ele tem obrigação de seguir a obrigação.
Ela teria de segui-lo.
Ele tenta ganhar muito.
Ela tenta perder pouco.
Ele pensa em Jesus, Maria e José.
Ela debulha o rosário.
Ele reflete sobre o mapa.
Ela pensa no destino.
Ele pensa que vai morrer.
Ela sabe que vai chorar.
Ele a observa.
Ela fala, dele para ele.
Ele aperta.
Ela sorri.






MACHADO DE ASSIS, FUTEBOL E CALCINHA PRETA.

  A vida copia a arte e a arte copia a vida. Sendo assim, vejamos como uma salada composta pelo esporte “paixão nacional”, acrescida de nosso melhor escritor em todos os tempos e temperada por um grupo musical do nosso meio “underground verde-amarelo” formam um sabor conhecido, um prato sofisticado e apetitoso por mesclar sabores variados e que desce muito bem com um bom copo de ironia tinta suave.

     A discussão em torno da procura de uma moderna interpretação e, quiçá, de uma nova redação “Dom Casmurro” de Machado de Assis já gerou desde discussões acaloradas até a formação de grupos de extermínios.

     Vejamos os exemplos de algumas facções com pretensões críticas:

     Uns tentam emplacar a ideia de que Bentinho tivesse uma “vontade oculta de realizar práticas sexuais alternativas” e, assim, possuísse uma paixão secreta por Escobar; outras, mais psicologistas, vêem Capitu como uma pobre vítima de um Bentinho neurótico, um enfermo de transtorno obsessivo-compulsivo e ditador cruel.
Tudo besteira. Quem realmente conhece Machado de Assis sabe que sua sutileza não se passa em um nível tão abstrato, ela se desenvolvia nas cruéis evidências dos fatos (sim! o Bruxo de Cosme Velho tinha “sangue no zóio”!), Machado não pinta opiniões, ele destrincha fatos e para melhor entender o mundo machadiano é interessante conhecer o mundo futebolista brasileiro, pois, afinal de contas, é tudo farinha saída do mesmo moinho ontológico tupiniquim.

     Nós, os amantes do futebol (e eu me incluo, sem nenhum pudor ou receio, nesse meio), sabemos das limitações, corrupções e crueldades do nosso amado esporte, porém somos todos defensores de nossa “organização criminosa”. Não somos vítimas viciadas e ignorantes, somos soldados voluntários do tradicionalismo nacional: somos terroristas contra o projeto de escandinavização do Brasil (onde os corintianos são os “homens-bomba”!) e nossa principal arma, assim como ocorre com Bentinho, é a dúvida.

     Os modelos do futebol americano, europeu e japonês não nos servem. Veja o descaso com que tratamos o futebol feminino que é símbolo de igualdade e civilidade no mundo. Dissemos, às vezes, com uma leve dor na consciência: “Que pena que o futebol das mulheres não é valorizado no Brasil…”… Não gastamos, porém, três minutos para assistir a uma partida da Copa do Mundo delas. Em compensação, acompanhamos entusiasticamente a série B3 do Campeonato Paulista. Portanto, não tem jeito… Não somos e não queremos ser bons cidadãos civilizados e emancipados, somos velhos mafiosos, sempre na espreita, sempre em grupo, conspirando nas esquinas do Brasil, numa eterna confabulação em prol de nossa “irmandade cultural futebolesca”. Os boleiros brasileiros, assim como Bentinho, sempre mijarão em pé, e provavelmente fora do vaso, quando forem à Suécia.

     Machado de Assis na sua maldosa genialidade acabou descrevendo o que na sua época era apenas a semente de nossa sociedade futebolística. Bentinho se relaciona com Capitu como nós nos relacionamos com o futebol. Acima de tudo o protagonista do romance ama a bela e sedutora Capitu, porém, ele sabe perfeitamente que o que ela tem de bela ela tem de mau-caratismo. Sua paixão, porém, o impede de se afastar, por isso ele lança a dúvida na tentativa de justificar o fato de estar com ela.

     “Dom Casmurro” não é um livro/dúvida como a maioria das pessoas o interpreta, mas sim um livro/engano.

     Bentinho tem certeza de que sua bela Capitu é uma “vagaba de 5ª categoria”. Ele entanto nos engana com suas dúvidas, abusando dos maus instintos que a nossa noção de justiça pós-moderna, politicamente correta, “sandraanenbergueana” (ver o Jornal Hoje da Rede Globo e sua âncora feliz) e sem se importar de parecer idiota, desde que não o pressionemos a abandonar sua amada.
Da mesma forma que Capitu, o futebol, com seus “olhos de cigana oblíqua e dissimulada”, nos seduz, deixando como única saída digna as dúvidas e reclamações sobre sua lisura. Simples assim. Somos apenas um pouco mais sutis que Machado. Não ousamos duvidar da lisura do esporte bretão. Não diretamente… Duvidamos ao questionar a honestidade dos dirigentes dos clubes, em sua maioria gângsteres, e que fazem dos seus clubes a extensão de seus impérios; ou quando questionamos a transparência da CBF, que é composta e mantida pelos mesmos dirigentes dos clubes.

     Enfim, o futebol brasileiro é uma instituição que foi feita para nunca ser totalmente honesta e mesmo assim, como Bentinho duvida da honestidade de Capitu, questionamos a integridade dos homens que dirigem esse esporte, como se algum dia pudesse haver algo diferente. A nossa defesa é o discurso da esperança de que o futebol um dia possa ser algo transparente, assim como a defesa de Bentinho é a dúvida de que Capitu possa não o ter traído. Porque no final das contas, tanto a esperança como a dúvida são sempre portas abertas para uma possível fuga.

     O tal de Machado de Assis é divino e cruel, doce e maldoso, como o amor. Já Bentinho é esperto e fraco, enganado e enganador, como todos nós. E Capitu é bela e corrupta, caprichosa e arrebatadora, como o futebol.

     E para expressar essa alma brasileira, não foram competentes o bastante aqueles que sempre pretenderam julgar a nação do alto de suas canções, tais como: Legião Urbana, com seu “niilismo carpidor”; ou Chico Buarque, com seu “idealismo plebeu”; ou ainda algum “cult legalzinho”… e tão pouco a filosofia “indescritível e convencida” de Caetano Veloso, mas somente nossa cultura marginal, na voz de uma banda de forró punk-brega chamada Calcinha Preta, ao cantar: “Você não vale nada, mas eu gosto de você, você não vale nada, mas eu gosto de você, tudo que eu queria era saber por quê?”.

     Capitu não vale nada, mas eu gosto dela, diria Bentinho; O futebol não vale nada, mas gostamos dele, diríamos nós. Só ficando uma questão, que provavelmente nunca será respondida: o porquê.


Obs: Texto de 2012.





FELIZES INFELIZES.

     Em um banco de rodoviária, as duas horas de uma tarde de muito calor, fui obrigado a prestar atenção na conversa de duas mulheres sentadas próximas. As duas mulheres, uma mais jovem e bonita e a outra mais erada e bem vestida, começaram, como se começa toda conversa entre conhecidos que se vêm ocasionalmente, com trivialidades até que a mais jovem começa a narrar sua pobre sina.
         - Ela fez de tudo para acabar com meu namoro e tenho certeza que tem coisa dela no fato da loja não me contratar como fixa depois que terminou o contrato de temporária. Aquela mulher não presta, não presta. Ela me olhava me rebaixando, querendo sempre me diminuir. Eu não sei o que fiz para ela, mas aquela infeliz faz de tudo para tornar minha vida infeliz também.
         Claro que a amiga concordou e ainda deu mais argumentos contra a tal “infeliz”, mesmo dizendo não conhecê-la e dando seguimento à conversa até eu pegar meu ônibus para viajar com aquela “infeliz” no pensamento.
         Seria ela tão ruim assim? Existiria uma pessoa no mundo que só planejasse o mal contra outra que, digamos a verdade, não aparentava ter tantos atributos assim para ser invejada? Seria tudo verdade? Seria uma pequena parte verdade? Seria real a existência da “infeliz”? Tudo não passaria de uma autopromoção disfarçada, uma inimiga fictícia para tirar a vida do tédio e mostrar para a amiga que ela não estava tão mal assim? Será que a jovem acreditava piamente naquilo tudo mesmo que na realidade as coisas não fossem bem assim, ou, nada assim? Seria ela uma criminosa que matou uma ilusão, um sonho ou algo que o valha? Ou seria a jovem mais uma vitima de vitimismo tentando esconder as derrotas do dia-a-dia com desculpas pré-fabricadas?

         Na verdade, não sei de nada, só sei que as duas amigas estavam bem e felizes naqueles instantes em que falavam mal da tal “infeliz”.









O Charruador e Outros Contos

Sinopse do livro O CHARRUADOR E OUTROS CONTOS De Gianfrancesco Tornich Pela plataforma CLUBE DE AUTORES    Temos aqui um livro de contos q...