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Mostrando postagens de janeiro, 2018

ATO PENITENCIAL II

    Voltando à culpa, ou pelo menos, a minha, vou narrar um fato pessoal para não divagar demais e não sair fora da rota desta vez...     Confesso que já fui petista, esquerdista e um pouco vitimista por um período da minha vida. Ajudei, e muito, a montar o Partido dos Trabalhadores na minha cidade, conheci personalidade de expressão nacional do partido, convivi com dirigentes regionais e seus grupos, fui membro de movimento estudantil em faculdade pública, estive no meio de reuniões e passeatas contra o “imperialismo yanque” e gritei palavras de ordem contra o capitalismo. Vi de perto a política esquerdista e seus principais braços; estudantes, sindicatos de professores e membros da Teologia da Libertação que se embrenham em boas consciências desavisadas. Vi como a ideologia reinante, dita progressista, cria seus filhotes no meio da burocracia estatal e atrasa o progresso nacional, vi as muitas formas de pressionar os neófitos a entrarem e se tornarem a infantaria de partidos e vi

ATO PENITENCIAL

    Mea-culpa é uma expressão que significa “minha culpa”, ou “minha falha” e não “meia-culpa” que significaria que apenas metade de uma dada culpa seria minha, como fazem alguns políticos.      Na tradição católica (presente também em liturgias protestantes mais antigas), o confessar-se culpado é o início para a redenção da alma, não sendo à toa que a expressão é pronunciada em uma declaração pública logo no início das missas, no chamado Ato Penitencial.     Errar, tomar consciência do erro, confessar e lutar para não cometer tal ato ou outros parecidos; deveria ser algo comum, compreensível e louvável a todo cristão e a toda pessoa que vive em um ambiente dado como cristão, pois, a sociabilidade mínima passa por saber quais são as bases do pensamento predominante.     O projeto divino de redenção é muito bem construído, mas contra ele trabalha o rei da divisão, o grão-mestre da confusão e o pai da pequenez; e mesmo que uma boa alma, que depois de lutas internas elevou a cons

POBRE PODER.

    Se existe uma coisa que a história já cansou de provar é que o poder político pessoal tem prazo de validade para acabar. Independente do caráter do governante, da suas forças morais, retóricas, militares ou econômicas; um belo dia ele se encontra incapaz de guiar, controlar, articular e comandar a quem ele um dia governou.     Às vezes, a decadência do poder se faz lentamente, por longos anos (ver o ex-ditador zimbabuano, Robert Mugabe), ou então, acontece meteoricamente como foi a subida até ele (ver o ex-presidente, Fernando Collor). O fato é que o poder sempre muda de mãos e quanto maior o apego do governante a ele, maior é o sofrimento na hora fatídica do adeus. Talvez, foi consumido por tal sofrimento que um ex-presidente do Brasil deu um tiro no próprio coração quando se viu sem alternativas e prestes a ser deposto do cargo máximo da nação (ver Getúlio Vargas). Faltou alguém dizer para ele: “Calma amigo! Aceita que dói menos!”     Não só na democracia é assim. Stalin gov

SEM TEVÊ

    Às vezes eu passo a sua frente e nem olho, às vezes olho, mas ela não consegue prender a minha atenção. Às vezes, na maior das boas vontades, eu tento dedicar algum tempo a sua existência, mas não tem jeito, ela não me convence mais, ela é uma velha decadente que perdeu seu encanto para mim.     Ela, que ainda ilude muitos por ai, tenta a todo o momento se relacionar com sua adversária mais forte e interessante. Em alguns poucos pontos a relação até flui, mas no geral acredito que seja um fato que se confirma dia após dia, da nova comer a velha.     Calma! A coisa não é tão explicita e vulgar como parece ser. Na verdade a coisa é mais implícita e degenerada. Alguns podem ver o fato sob a ótica romântica, outros veem a loucura e o individualismo radical. Fato é que a televisão vai perdendo, dia-a-dia, cada vez mais espaço para a internet e seus múltiplos aparelhos no tempo e na atenção das pessoas.  Inclusive, com a onda de tecnologia se avolumando cada dia mais rápido e com ma

A IGUALDADE

Ele observa. Ela fala. Ele vê a forma bonita. Ela repara nas roupas e no porte. Ele se encanta com a voz e com o perfume. Ela faz charme e observa seu carro. Ele sente o coração acelerar. Ela pensa rápido e friamente. Ele faz pose de dominador. Ela finge ser dominada. Ele fica neurótico com o passado. Ela põe em dúvida o futuro. Ele se hipnotiza com o seu quadril. Ela observa seu status social. Ele quer todas. Ela quer o melhor. Ele se escraviza pela mãe e pelos filhos. Ela mata pelo filho. Ele tem obrigação de seguir a obrigação. Ela teria de segui-lo. Ele tenta ganhar muito. Ela tenta perder pouco. Ele pensa em Jesus, Maria e José. Ela debulha o rosário. Ele reflete sobre o mapa. Ela pensa no destino. Ele pensa que vai morrer. Ela sabe que vai chorar. Ele a observa. Ela fala, dele para ele. Ele aperta. Ela sorri.

MACHADO DE ASSIS, FUTEBOL E CALCINHA PRETA.

  A vida copia a arte e a arte copia a vida. Sendo assim, vejamos como uma salada composta pelo esporte “paixão nacional”, acrescida de nosso melhor escritor em todos os tempos e temperada por um grupo musical do nosso meio “underground verde-amarelo” formam um sabor conhecido, um prato sofisticado e apetitoso por mesclar sabores variados e que desce muito bem com um bom copo de ironia tinta suave.      A discussão em torno da procura de uma moderna interpretação e, quiçá, de uma nova redação “Dom Casmurro” de Machado de Assis já gerou desde discussões acaloradas até a formação de grupos de extermínios.      Vejamos os exemplos de algumas facções com pretensões críticas:      Uns tentam emplacar a ideia de que Bentinho tivesse uma “vontade oculta de realizar práticas sexuais alternativas” e, assim, possuísse uma paixão secreta por Escobar; outras, mais psicologistas, vêem Capitu como uma pobre vítima de um Bentinho neurótico, um enfermo de transtorno obsessivo-compulsivo e ditad

FELIZES INFELIZES.

     Em um banco de rodoviária, as duas horas de uma tarde de muito calor, fui obrigado a prestar atenção na conversa de duas mulheres sentadas próximas. As duas mulheres, uma mais jovem e bonita e a outra mais erada e bem vestida, começaram, como se começa toda conversa entre conhecidos que se vêm ocasionalmente, com trivialidades até que a mais jovem começa a narrar sua pobre sina.          - Ela fez de tudo para acabar com meu namoro e tenho certeza que tem coisa dela no fato da loja não me contratar como fixa depois que terminou o contrato de temporária. Aquela mulher não presta, não presta. Ela me olhava me rebaixando, querendo sempre me diminuir. Eu não sei o que fiz para ela, mas aquela infeliz faz de tudo para tornar minha vida infeliz também.          Claro que a amiga concordou e ainda deu mais argumentos contra a tal “infeliz”, mesmo dizendo não conhecê-la e dando seguimento à conversa até eu pegar meu ônibus para viajar com aquela “infeliz” no pensamento.          S