Em um banco de rodoviária, as duas horas de uma
tarde de muito calor, fui obrigado a prestar atenção na conversa de duas
mulheres sentadas próximas. As duas mulheres, uma mais jovem e bonita e a outra
mais erada e bem vestida, começaram, como se começa toda conversa entre
conhecidos que se vêm ocasionalmente, com trivialidades até que a mais jovem
começa a narrar sua pobre sina.
- Ela fez de tudo para acabar com meu namoro e
tenho certeza que tem coisa dela no fato da loja não me contratar como fixa
depois que terminou o contrato de temporária. Aquela mulher não presta, não
presta. Ela me olhava me rebaixando, querendo sempre me diminuir. Eu não sei o
que fiz para ela, mas aquela infeliz faz de tudo para tornar minha vida infeliz
também.
Claro que a amiga concordou e ainda deu mais
argumentos contra a tal “infeliz”, mesmo dizendo não conhecê-la e dando
seguimento à conversa até eu pegar meu ônibus para viajar com aquela “infeliz”
no pensamento.
Seria ela tão ruim assim? Existiria uma pessoa no
mundo que só planejasse o mal contra outra que, digamos a verdade, não
aparentava ter tantos atributos assim para ser invejada? Seria tudo verdade?
Seria uma pequena parte verdade? Seria real a existência da “infeliz”? Tudo não
passaria de uma autopromoção disfarçada, uma inimiga fictícia para tirar a vida
do tédio e mostrar para a amiga que ela não estava tão mal assim? Será que a
jovem acreditava piamente naquilo tudo mesmo que na realidade as coisas não
fossem bem assim, ou, nada assim? Seria ela uma criminosa que matou uma ilusão,
um sonho ou algo que o valha? Ou seria a jovem mais uma vitima de vitimismo
tentando esconder as derrotas do dia-a-dia com desculpas pré-fabricadas?
Na verdade, não sei de nada, só sei que as duas
amigas estavam bem e felizes naqueles instantes em que falavam mal da tal
“infeliz”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário