Pular para o conteúdo principal

FELIZES INFELIZES.

     Em um banco de rodoviária, as duas horas de uma tarde de muito calor, fui obrigado a prestar atenção na conversa de duas mulheres sentadas próximas. As duas mulheres, uma mais jovem e bonita e a outra mais erada e bem vestida, começaram, como se começa toda conversa entre conhecidos que se vêm ocasionalmente, com trivialidades até que a mais jovem começa a narrar sua pobre sina.
         - Ela fez de tudo para acabar com meu namoro e tenho certeza que tem coisa dela no fato da loja não me contratar como fixa depois que terminou o contrato de temporária. Aquela mulher não presta, não presta. Ela me olhava me rebaixando, querendo sempre me diminuir. Eu não sei o que fiz para ela, mas aquela infeliz faz de tudo para tornar minha vida infeliz também.
         Claro que a amiga concordou e ainda deu mais argumentos contra a tal “infeliz”, mesmo dizendo não conhecê-la e dando seguimento à conversa até eu pegar meu ônibus para viajar com aquela “infeliz” no pensamento.
         Seria ela tão ruim assim? Existiria uma pessoa no mundo que só planejasse o mal contra outra que, digamos a verdade, não aparentava ter tantos atributos assim para ser invejada? Seria tudo verdade? Seria uma pequena parte verdade? Seria real a existência da “infeliz”? Tudo não passaria de uma autopromoção disfarçada, uma inimiga fictícia para tirar a vida do tédio e mostrar para a amiga que ela não estava tão mal assim? Será que a jovem acreditava piamente naquilo tudo mesmo que na realidade as coisas não fossem bem assim, ou, nada assim? Seria ela uma criminosa que matou uma ilusão, um sonho ou algo que o valha? Ou seria a jovem mais uma vitima de vitimismo tentando esconder as derrotas do dia-a-dia com desculpas pré-fabricadas?

         Na verdade, não sei de nada, só sei que as duas amigas estavam bem e felizes naqueles instantes em que falavam mal da tal “infeliz”.









Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Etiam

Onde a confusão e o erro não entram.

Sarra

Sem paz e sem amor.

ATO PENITENCIAL II

    Voltando à culpa, ou pelo menos, a minha, vou narrar um fato pessoal para não divagar demais e não sair fora da rota desta vez...     Confesso que já fui petista, esquerdista e um pouco vitimista por um período da minha vida. Ajudei, e muito, a montar o Partido dos Trabalhadores na minha cidade, conheci personalidade de expressão nacional do partido, convivi com dirigentes regionais e seus grupos, fui membro de movimento estudantil em faculdade pública, estive no meio de reuniões e passeatas contra o “imperialismo yanque” e gritei palavras de ordem contra o capitalismo. Vi de perto a política esquerdista e seus principais braços; estudantes, sindicatos de professores e membros da Teologia da Libertação que se embrenham em boas consciências desavisadas. Vi como a ideologia reinante, dita progressista, cria seus filhotes no meio da burocracia estatal e atrasa o progresso nacional, vi as muitas formas de pressionar os neófitos a entrarem e se tornarem a infantaria de partidos e vi